Voce esta' envelhecendo. Nao venha me dizer que esta' com apenas 19 anos, porque isso nao muda nada. Estamos envelhecendo diariamente, uns com extremo pesar e outros praticamente sem perceber, porque o que faz a gente perceber que os anos estao nos devorando por dentro sao detalhes pequenos de nos mesmos.
Eu, por exemplo, sempre acreditei que manter um espirito jovem bastaria para tocar a vida sem me preocupar com contagens regressivas. Muitos jeans no guarda-roupa, compradora compulsiva de discos e livros, o cabelo ainda meio comprido, internauta e empolgada com certas novidades, achei que poderia ficar cristalizada nos 30 anos ate' 2017, se corresse tudo bem.
Nao esta' correndo. Aconteceu algo que me pegou desprevenida. Relutei em aceitar, mas com a chegada do inverno tornou-se impossivel negar que o tempo esta' passando pra mim tambem. Comecei a gostar de sopa.
Eu nao gostava de sopa nem de nada que levasse agua quente, incluindo chimarrao. Na infancia, nao tomava porque nao gostava do sabor de nenhuma delas, preferia batata frita. E, passada a infancia, virou teimosia, nao tomava sopa porque o ritual me parecia macabro: encurvar as costas, assoprar levemente a colher e entao engolir o caldinho. Prato fundo e' louca pra matusalem era o que eu pensava la' nos gloriosos 14 anos e sua vizinhanca.
Pois um tempo atras fui jantar na casa de uma amiga e ela ofereceu um creme de aspargos. Pra nao ser mal-educada, aceitei um pouquinho, afinal estavamos escutando Bjork, as pessoas estavam todas vestidas com o melhor do Mix Bazar e dali saimos para um show no Opiniao. Nossa modernidade estava a salvo, entao entornei uma concha no prato.
Delirei. Fiquei viciada em creme de aspargios, com pao, `a francesa. Sopa de ervilha, sopa de queijo, sopa de lagosta. Sopa de lagosta foi so' uma vez, porem memoravel. Hoje eu adoro sopa. Amo sopa. Vou chegar em 2017 feliz com meus dignos 56 anos. Ora bolas, modernidade continua sendo uma coisa de cabeca, o estomago nao tem nada a ver com isso.
Ainda bem. Porque eu tambem dei pra gostar de cha'.
Martha Medeiros - (do livro Montanha Russa)
Nao esta' correndo. Aconteceu algo que me pegou desprevenida. Relutei em aceitar, mas com a chegada do inverno tornou-se impossivel negar que o tempo esta' passando pra mim tambem. Comecei a gostar de sopa.
Eu nao gostava de sopa nem de nada que levasse agua quente, incluindo chimarrao. Na infancia, nao tomava porque nao gostava do sabor de nenhuma delas, preferia batata frita. E, passada a infancia, virou teimosia, nao tomava sopa porque o ritual me parecia macabro: encurvar as costas, assoprar levemente a colher e entao engolir o caldinho. Prato fundo e' louca pra matusalem era o que eu pensava la' nos gloriosos 14 anos e sua vizinhanca.
Pois um tempo atras fui jantar na casa de uma amiga e ela ofereceu um creme de aspargos. Pra nao ser mal-educada, aceitei um pouquinho, afinal estavamos escutando Bjork, as pessoas estavam todas vestidas com o melhor do Mix Bazar e dali saimos para um show no Opiniao. Nossa modernidade estava a salvo, entao entornei uma concha no prato.
Delirei. Fiquei viciada em creme de aspargios, com pao, `a francesa. Sopa de ervilha, sopa de queijo, sopa de lagosta. Sopa de lagosta foi so' uma vez, porem memoravel. Hoje eu adoro sopa. Amo sopa. Vou chegar em 2017 feliz com meus dignos 56 anos. Ora bolas, modernidade continua sendo uma coisa de cabeca, o estomago nao tem nada a ver com isso.
Ainda bem. Porque eu tambem dei pra gostar de cha'.
Martha Medeiros - (do livro Montanha Russa)
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